Seguidores

domingo, 20 de novembro de 2011

Porque Pensar Relações Raciais na GCM

Elieser Marcelino dos Santos
GCM - 2ª Classe
Guarda Civil Metropolitana da Cidade de São Paulo


Outro dia em conversa com um guarda, amigo e ex-aluno, este declarou que a impressão que teve das aulas de relação racial era de estimulo e apoio preconceituoso as demais etnias, já que tal instrução é baseada na história e contexto da etnia Negra.

Por isso aqui faço um esclarecimento, não se trata de apologia, ou incentivo a qualquer atitude explicita ou velada, meio de discriminação ou preconceito.

É por estes e outros que fico mais convicto da necessidade de se tratar o assunto, dentro ou fora do âmbito da instituição, pois ainda, a grande maioria de nós está alienada segundo os moldes que os brasileiros somos educados ou como ouso a dizer adestrados, seja no modo de pensar e ver tal assunto, sempre amparados na cultura do isso é normal, isso foi e vai ser sempre assim, é o imaginário racista de que tudo que se faz ou se pensa a respeito do combate a tal ato ou atitude é injusto, é privilegiar, é ainda segundo estes não necessário.

Em se falando de Brasil, exploração, cultura, que base poderíamos usar para tratar tal discussão? Se não a história do escravos e índios deste país?

A grande dificuldade que ainda temos em lidar com este tema ratifica a tamanha importância e a necessidade do mesma estar na grade curricular da formação do GCM, até porque como agentes públicos, além de termos por obrigação o tratamento dos munícipes com urbanidade, com respeito, este dever vir regado de atos e atitudes não preconceituosos ou discriminatórias. (a chamada progressão do uso da força, jamais deve vir potencializada pela discriminação, intolerância e preconceito).

Tratar este tema é dar oportunidade para instigar o aluno candidato ao cargo de agente público na função de GCM a reconstrução das práticas políticas, pois estas estão interligadas por suas práticas sociais como, a legitimidade do exercício da função e o papel da vida individual.

As aulas não tem a intenção da mudança de valores, até porque não se muda valores da noite para o dia, (minha frase de apresentação das aulas), mas com certeza é um estimulo para a reflexão de, sobre, quais valores nos balizamos até então, sejam estes éticos e morais ou culturais. agir pelo dever ou por dever eis a questão.

O papel das ações afirmativas também é fazer uma reconstrução da prática política é falar da compreensão e da ação, isso é: prática política.

A fundamentação de uma sociedade e base econômica, passa pelo papel da vida individual.

O Cidadão, o Indivíduo, o Aluno, o GCM deve agir pelo dever ou por dever eis a questão.

Ação ética e moral segundo o filósofo Immanuel Kant: é aquela que ação que pode se tornar uma lei universal, agir de tal modo que a máxima da nossa ação possa valer ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal, é o que nos pede o filósofo.

Nossos valores e nossas idiossincrasias ainda estão baseados apenas no que vemos ao nosso redor, nos limitamos às percepções que estão nos limites de nossa curta cultura visão.

Falar da história dos negros e índios deste país é, nada mais nada menos que delatar as mazelas de um estado que foi construído, enriquecido e mantido com base na exploração, opressão e massacre de uma parcela de seus cidadãos, algo que se repete até os dias de hoje.

Não se trata de inocentar quem seqüestrava, quem os mantinham cativos, ou quem os vendiam, a manutenção deste sistema é que dever ser repensado e revisto sempre.

Separar famílias, tirar dignidade, ignorar cultura, nomes, idade, impor religião, violar e violentar indivíduos de forma bárbara , expondo-os aos mais baixos níveis de tudo que se possa pensar ou imaginar, assim era e proporcionalmente ainda o é, deixamos de ser escravos nominais e passamos a ser escravos sistema, capitalista, do imaginário racista, do descaso do estado, do abandono, do acesso, do direito e etc.

A existência do chamado ciclo silencioso ainda é muito forte e tem um papel fundamental na exclusão e na inclusão. Estes fatores vão desencadear vários problemas de ordem sociológica.

O racismo e o pré-conceito estão transvertidos em várias práticas, e para combater este male devemos reinterpretar os pontos constitucionais e qual os mecanismos e suas práticas.

A um pensamento filosófico que diz que, as maiores tragédias da humanidade foram também o motor motivador para elaboração de várias medidas para proteção da integridade humana e o progresso social, onde culminou por ex. a ONU, fundada em 1945 pós segunda guerra mundial.

Ouso pensar e deixar uma pergunta no ar, pós 13 de Maio de 1888, o que foi feito, para onde nós como país caminhamos em relação à dignidade humana e o progresso social destes que, até então tiveram o direito de serem vistos como seres humanos negados?

Ou a lei Áurea resolveu todos os problemas inclusive a dos estereótipos, do pré-conceito, da discriminação, da educação, da saúde, do emprego, do acesso, etc.

Os discursos de liberdade traduzem as desigualdades, pois ao falarmos de igualdade perceberemos fatores enormes de desigualdade, a começar pelo sentido, ser tolerante que na verdade é não querer ser igual mas sim, permitir que o outro seja igual a ele.

É muito mais fácil fingir que não se vê a necessidade de ações afirmativas, (não negando aqui a dificuldade da execução das mesmas), mas é mais fácil fingir que, como sempre está tudo bem, ou culpar os que sempre foram tidos como culpados, é lamentável ver e perceber que no imaginário racista e preconceituoso, qualquer reação do vitimado, já lhes servem de alimento ou munição para proclamar auto defesa, em nome da “lei, da ordem e da justiça”.

Propor ações afirmativas não é propor mais um meio de privilégios mas sim, equilíbrio e equidade.

Por fim amigos precisamos despertar do sono indolente e nos levantar do berço esplêndido da comodidade, de nossa zona de conforto para a realidade do; “ I Have a Dream: Que um dia nossa nação se porá de pé e viverá o verdadeiro significado de sua crença, que todos os homens foram criados iguais. Eu tenho um sonho, e nele as pessoas viverão em uma nação em que não serão julgados pela cor da sua pele mas sim pela essência de seus caráteres.” (trecho do discurso do Pr. Martin Luther King).

Mas não basta sonhar é preciso agir, se pensar é existir como propõe o filósofo René Descartes, passemos do sonha a existência.

É possível sim por em prática o que muitos vêem com utopia, a proposta do filósofo John Raws – de uma Justiça com Equidade e uma sociedade bem ordenada.

A proposta é repensar o exercício da cidadania, não como meros valores e regras capitalistas.

É não tratar o próximo, minha imagem e semelhança com apenas um ser.

É querer e desejar ao outro o mesmo valor de vida que eu tenho e desejo para mim.

Um comentário:

  1. Caro leitor, ao mesmo tempo de parabenizar o autor pela essencia do texto, gostaria de contribuir com algumas considerações e experiências obtidas no âmbito do Corpo Azul Marinho. É bom sempre voltarmos ao inicio de tudo, aos ideais de uma Corporação baseada na Hierarquia e Disciplina, tendo como base fundamental o respeito a dignidade humana, e a urbanidade entre seus integrantes. Contudo, como senão bastasse, ainda encontramos vestígios de baixa estima, de substimação, de seres que se consideram insubstituiveis, e que se dão ao caprichio de transmitir abnegação e frustação aos seus profissionais, pois tentam de todas formas prejudicarem a evolução profissional de seus próprios integrantes, afim de que sempre os mesmos estejam com o patrio poder de algo que não lhes pertencem, criando em tese um monopólio de cor azul marinho. Isto sem falar naquele que deveria ser um Lider Ressonante, por suas supostas virtudes e conhecimento, mas o que vemos é um conceituado VIAJANTE, dotado de prerrogativas e influências, rodeado de adeptos e seguidores, beneficiários de cargos em comissão. Pergunta-se: Serão que são engajandos por sua competência e conhecimento, ou pelo consentimento total aos mandos do Líder Viajante. Colega a grande discriminação está no consciente de cada um de nós, quando não conseguimos segurança naquilo que somos, criando um figurante da Política como solucionador de nossos problemas, é apenas um personagem passageiros, que chegou contou uma história, construiu alguns castelos, colocou alguns Reis e Principes, e depois descadeou uma Guerra Interna, onde Reis querem matar os principes, e os Principes querem o lugar do Rei. Estamos próximo de uma nova eleição, quem sabe esta história chegue ao fim e venha o Robin Hood para restaurar a motivação e esperança de tão valoros profissionais.

    ResponderExcluir